terça-feira, 1 de julho de 2008

Melodia-de-timbres

Uma técnica de composição desenvolvida e usada na tradição germânica tardia, que ajudou a complexificar ainda mais as relações tonais através da não-linearidade e não discursividade melódica.

Ou seja, vejamos como Schoenberg fez isso numa das peças do Pierrot Lunaire:

Imagine uma seqüência harmônica singela, sem relações tonais muito óbvias, mas também nada que seja de outro planeta. Eu diria talvez que soa uma harmonia quase debussyana. Tentando forçar alguma lógica tonal, poderia-se dizer que é uma dominante de Dó, com uma bordadura diatônica, terminando em um acorde alterado (5ª aumentada). Só que a presumida tônica não aparece. Até aí está tudo tranqüilo, nada que já não viesse sendo feito desde 1850:



Só que Schoenberg não está escrevendo para piano. O trecho acima aparece instrumentado para flauta, clarinete e violino, como introdução instrumental para a entrada da recitante. Imaginaríamos então uma distribuição das vozes assim:



Só que Schoenberg, além de fugir às obviedades tonais, decide também fugir da obviedade na condução das vozes, criando um efeito que faz com que a melodia (que nossos ouvidos costumam identificar facilmente na parte mais aguda) seja distribuída uma nota para cada instrumento. O resultado é que a melodia ouvida entre as notas mais agudas não esteja num deslizamento dentro do timbre do mesmo instrumento. Pelo contrário, ela é construída ponto a ponto, em notas que caminham de um timbre a outro.




Nenhum instrumento tem linearidade melódica em seu próprio trecho. O que ouvimos uma melodia que transita por todos os instrumentos, uma nota para cada um.



Para ouvir o trecho:





P.S. Não está funcionando o áudio, vou ter que corrigir isso depois...

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